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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Livro meu... parte 3


O bar tinha um aspecto velho de antigo e um ar novo de moderno.
Velho, porque se respirava história, na parede por cima do piano, havia um cartaz do filme “Casablanca” de 1942 com Humphrey Bogart e Ingrid Bergman em grande plano, por baixo o pianista Sam perdia algum protagonismo. De um lado, outro de “E tudo o vento levou” de 1939 com uma foto do saudoso Clark Gable, no outro um cartaz de “Citizen kane” de Orson Wells datado de 1941.
O piano era único, de cauda inteira, feito de madeira nobre, as teclas eram revestidas a marfim o que fazia Pablo pensar que estava perante uma peça de arte de um museu. Ele sabia que o marfim há muito que estava proibido, depois de uma convenção na Suíça foi decidido preservar os animais que davam origem a esta matéria-prima, os Elefantes.
Por cima, no tecto uma frase escrita de difícil leitura dizia o seguinte: “ O que não pode voltar a acontecer”, ele olhou melhor e, reparou que a frase estava escrita num desenho de um avião enorme que ocupava quase todo o tecto do bar, parecia quase real. Mais abaixo um volume com aspecto de bomba atómica estava pendurado por uns fios quase invisíveis ao avião e, suportava quase toda a iluminação do bar.
Foi então que percebeu que só poderia ser o bombardeiro Enola Gay e a primeira bomba atómica lançada em 1945, era curioso, tantos factos da década de quarenta.
Talvez o bar tivesse sido inaugurado nessa época, pensava ele. Pablo não achava grande piada ao facto de poder estar sentado numa mesa por baixo daquela enorme bomba, talvez por isso se sentisse confortável no balcão do bar.
O bar tinha também outro lado mais novo, mais moderno, pelas curvas que apresentava, pelas cores, pelas bebidas, pelos copos, pela disponibilidade das pessoas, pela luz.
Entretanto Pablo não encontrou nenhum buraco grande, o suficiente para se enfiar lá dentro e a desilusão que se tinha apoderado dele desaparecera.
Ele tinha que fazer algo, Pablo era destemido, ousado e tinha uma grande capacidade para o improviso. De repente, levantou-se e dirigiu-se para a mesa onde estava a ilusão que o tinha levado ali, a Chica de Chiclana.
Pablo sentou-se e disse:
- Olá! Eu sou Pablo!
Aquele “Olá” caiu naquela mesa como um raio de luz, fulminante, muito forte mas ao mesmo tempo cordial, aberto, sereno, embora um pouco atrevido. Ele queria mostrar que era boa onda, que estava ali com um bom espírito.
Já aquele “Eu sou Pablo” caiu que nem a bomba atómica que estava por cima da mesa, pesada, explosiva.
Ela ficou perplexa com o que seus olhos viam, os mesmos que lá no fundo escondiam um misto de satisfação e nervosismo, não sabia se havia de chorar ou sorrir.

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