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sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Fazer ou não fazer...eis a questão

No ano de 1830, os americanos consumiam em média 1,7 garrafas de bebidas destiladas, 3 vezes mais do que consomem em 2010.
Esta é já uma história muito antiga, no entanto, todos falam que a experiência de vida é importante mas, por norma, obcecados por olhar em frente deixam escapar por entre o pensamento, exemplos válidos do passado.
Por vezes na vida, não há necessidade de ser muito criativo sobretudo quando temos esses exemplos que podemos aperfeiçoar ou modernizar. Nos EUA, em 1918 foi anunciada a lei seca que consistia na proibição da venda, fabrico, consumo, importação e exportação de bebidas alcoólicas. A lei seca imperou durante quase 14 anos. A 18ª emenda da constituição do país ratificou essa decisão a 16 de Janeiro de 1919 entrando em vigor a lei seca um ano depois,16 de Janeiro de 1920. Durante esses 13 anos 11 meses e 24 dias de impedimento, o consumo de álcool não viria a baixar, por outro lado, os grupos organizados iriam crescer como ervas daninhas. Com a fortuna acumulada, esses gangs de mafiosos começaram a ter um poder nunca antes visto na sociedade norte-americana. O negocio era simples, grande parte da população americana (excepto os puristas) queria beber o que o seu governo proibia. Com tanta procura, e tanta clientela, só tinham que fazer chegar, o álcool destilado ás escondidas ou o álcool importado. Como este tipo de negócio obedece a uma grande logística, a quantidade de gente envolvida era enorme. Estes foram sem duvida os anos de oiro da máfia. Com a abolição da lei seca a 5 de Dezembro de 1933, deixou de se negociar e beber ás escondidas, por isso os anos de oiro da máfia norte-americana iriam acabar. Como o negócio já era legal, o crime e a corrupção baixou significativamente.
Por outro lado, depois da crise e do crash bolsista de 1929 a débil economia norte-americana começou a respirar melhor, graças á entrada deste imposto.
Entretanto, na principal colónia holandesa na Ásia o consumo do ópio não era muito comum, não era… mas passou a ser com a chegada dos comerciantes holandeses. O próprio governo Holandês, percebendo o negocio rentável que tinha em mãos, criou algumas leis para proteger esse comercio.
Enquanto uns aplicavam a lei seca dando origem a grupos criminosos, outros aplicavam a lei do ópio na Indonésia, controlando.
Com o aparecimento de alguma obsessão pela droga, o governo holandês passou a vender o ópio só em estabelecimentos do governo controlando assim a situação. Terminou em 1942 quando o Japão invadiu a Indonésia.
Depois da segunda guerra mundial, a marijuana foi introduzida na Holanda pelos soldados e por um grupo de músicos de jazz, até aos anos sessenta o consumo era muito restrito e não tinha nenhum impacto social. Com o aparecimento do movimento “Provo“, começou a ganhar maior expressão, ainda pior porque as autoridades holandesas não conheciam esse tipo de droga nem sabiam sequer como era, apenas que era proibido. Na época, com o fim das colónias e o regresso de muitos refugiados com formas de vida e mentalidades diferentes, deu-se início ao aparecimento de alguns grupos que tinham um ideal de vida diferente. Com um pensamento contracultura e contra o consumismo, tinham opções de vida mais livres e próprias, assim como revolucionárias, esse movimento viria a influenciar decisivamente a cultura mundial dando origem ao movimento hippie, ou á rebelião do povo Francês, em Maio de 68, considerada por alguns filósofos e historiadores como a maior rebelião do século xx, ultrapassando todas as barreiras culturais, étnicas, de idades ou de classes sociais. Esse movimento “Prove”, que nasce da palavra Holandesa provocatie (provocação) surge com a necessidade de chocar ou provocar o pensamento de uma sociedade que se deslocava por um caminho só, o american way of life. A visão de outras opções de vida e o respeito por cada consciência, levou a Holanda e o próprio Ocidente a rever os seus planos políticos. Poucos são os que conhecem esse movimento responsável pela cidade livre que Amesterdão é hoje para o mundo. Quando estive pela primeira vez na Holanda em 1989, já se dizia que “em Roterdão trabalha-se, em Amesterdão vive-se“, não será melhor viver nesta vida do que sobreviver?
Na época á semelhança do que acontece hoje em Portugal e noutros países, a Lowlands Weed Company, explorava uma falha na lei vendendo pequenas plantas de cânhamo desenvolvidas a partir de sementes. Para se identificarem com este novo fenómeno que desconheciam, o governo Holandês, realizou um estudo sobre drogas no início dos anos 70. Os dois relatórios apresentados sobre esse estudo (em 72 e 75) propunham a legalização da cannabis. A” teoria do degrau”, que diz que o consumidor de drogas leves poderá partir para o consumo de drogas mais pesadas, foi analisado e chegaram á conclusão que, o consumidor de cannabis adquirindo esse produto num contexto ilícito, mais facilmente chegaria a outro tipo de drogas. Já no passado, enquanto liberalizavam o consumo de ópio na Indonésia, a Holanda tinha muitos problemas pelo consumo exagerado de álcool. Não sei o que seria pior mas… um dado é adquirido, conheço casos fatais de muitas cirroses, por fumarem cannabis não conheço nenhum. E… o que dizer do tabaco? Quantos morrem de cancro nos pulmões? Imaginem a coisa nesta perspectiva: “A agricultura enfrenta o looby da industria farmacêutica e a industria do tabaco”. Será, que fumar um cigarro de uma qualquer erva que nasce e se desenvolve na terra, será pior para a saúde que um cigarro cheio sei lá do quê e…alcatrão? Ou…do que um qualquer Xanax ou um Valium? Ou… uns Martinis antes de uma refeiçao? Ou… um RedBull?
Talvez seja socialmente mais aceite uma qualquer injecção de morfina, do que um simples charro de erva. Quanto á “teoria do degrau”, não é por beber cerveja, que passarei a beber bagaço, ou que passarei de um charuto para um cigarro, ou de um Benuron para Valium, de um charro para a heroína, mas… se o quiser fazer, porque não…? A vida até é minha! Será o facto de ser ilegal que me impedirá? Claro que não, só nos levará para um mercado clandestino por vezes perigoso.
Um dia alguém disse que o fruto proibido é o mais apetecido.
Aliás, se os puristas colocarem a hipótese de um dia, o seu filho ir comprar um charro para fumar, preferiam que ele o fosse comprar a um gueto qualquer, ou a um café… uma farmácia…há junta de freguesia, ou… numa qualquer rua onde não há nada para esconder?
Pois é, eles não procuram estas coisas, são os outros que ofertam, continuem a comprar comprimidos para dormir, ou a beber para esquecer os pecados que não cometeram.
Aliás, em 2010, temos em Portugal algumas lojas a fazer aquilo que a Lowlands Weed Company fez naquela época, a tirarem proveito de um buraco na lei para venderem esse tipo de substancias nas lojas.
A Magic Mushroom no Bairro Alto em Lisboa e a Cogumelo Mágico em Aveiro, comercializam drogas legais. É um pouco como se proibíssemos a comida por haver quem sofra de gula, ou proibir umas sementes de Girassol porque alguém se lembrou de as comer.
É lógico que isto é um tema que dará sempre azo a muita discussão, haverá gente contra defendendo a “teoria do degrau”, e outros a favor, tendo por pretensão trazer esses “marginais” de volta á sociedade.
Isso é um pouco como a incineradora.
Sei que faz falta, mas não gostava de a ter na minha Rua, todavia… trocava de olhos fechados uma pela outra…
Estarão a adiar o inevitável?
Deixem a vossa opinião…

01-10-2010 dobicodacaneta.
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