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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Marrocos


Numa bela manhã de sol, com quase 40 graus de temperatura fui visitar o mercado de Marrakech. A cultura é totalmente diferente da nossa e isso cativa pela diferença. Quando estava a ver um tocador de serpente, senti um toque suave e delicado no meu ombro direito, virei-me e… fiquei de frente para uns grandes olhos azuis, azuis da cor do céu nos seus dias mais bonitos e limpos. Um olhar jovem aparentando alguma dor e sofrimento. Um olhar profundo de uma clareza impar. Sim, é claro que fiquei fascinado com a pureza daquele olhar, tudo o que me rodeava desapareceu para parte incerta, estava focado, já não havia movimento e ruído à minha volta. Só uns olhos, uns puros, profundos e sofridos olhos.
Era uma vendedora, não cheguei a perceber o que vendia, estava KO, out… num mundo de imaginação e indignação que era meu. Era a única parte do corpo daquela jovem que era possível ver. Uma Niqab negra com um véu cobria-lhe todo o corpo. Era um sofrimento ver alguém assim, não só pelo calor desconfortável mas… pela beleza escondida, pelo olhar oprimido, por uma vida que não existia. Provavelmente, eu estaria muito mais confuso que ela. Quando vivemos com alguma liberdade, tudo nos parece tão natural que por vezes já não lhe damos muita importância, a não ser que algo nos faça pensar nisso. Foi o que aconteceu, imaginar a vida daquele ser humano era difícil mas, ela não conhecia a diferença. Um hábito por obrigação faz parte da sua cultura. Era um país diferente com uma cultura diferente e hábitos diferentes. Não podia tentar ajudar, percebi que só deveria entender e isso, isso estava naquele olhar.
A partir daquele momento fiquei mais tolerante com a diferença de culturas e hábitos do ser humano. Cada vida é uma vida e o tempo que passamos nela é curto para mudar o destino de todos. Talvez, o facto de estarmos rodeados de opiniões diversas, nos leve a ser o que somos. Ser livre, é isso também. Não ter “cabeça feita” por um político, um religioso, um director do que seja, um jornal, uma televisão, enfim… Quanto a mim, espero preservar essa liberdade de decidir o que quero com a mente aberta respeitando os outros. Os defeitos e as virtudes de uma sociedade, também nos ajuda a crescer.
Triste, muito triste é só existir uma vida e aquela pessoa ser obrigada a passar por ela assim…
_____Fotografia de Ana Chora, autorizada por Ana Chora.

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